A cidade de Mari, na Zona da Mata Paraibana, vive a reta final de um processo que pode mudar a história política do município.
A Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (AIME) foi proposta pelo candidato Paulo Castro, que acusa a prefeita Lucinha da Saúde, o vice-prefeito Sapinho, as vereadoras Nice do Assentamento e Vânia de Zu, e o ex-prefeito Antônio Gomes, de abuso de poder político e econômico e compra de votos.
Segundo os advogados da ação, a denúncia não tem relação com outro processo semelhante (AIME nº 0600001-24.2025.6.15.0004) e trata exclusivamente de práticas que violam a Constituição Federal, a Lei Complementar nº 64/90 e o art. 41-A da Lei das Eleições, que proíbe a captação ilícita de sufrágio.
Esquema de assistencialismo eleitoral
De acordo com os documentos anexados, o ano eleitoral de 2024 registrou um aumento explosivo nos gastos da Prefeitura de Mari com ações assistenciais, especialmente na pasta de Assistência Social. Relatórios do Tribunal de Contas do Estado mostram:
• +650% no pagamento de contas de água para eleitores;
• +500% no pagamento de contas de energia;
• +200% na distribuição de botijões de gás;
• +175% em “ajuda financeira” direta;
• Milhões gastos em contratações temporárias e gratificações.
O contador público Paulo Gildo de Oliveira, ouvido como testemunha técnica, afirmou que os picos de despesas coincidiram com o lançamento da candidatura de Lucinha e com a reta final da campanha.
Compra de votos comprovada por depoimentos
As oitivas revelaram detalhes graves:
• Artur Henrique dos Santos disse ter recebido R$ 500,00 diretamente da prefeita, com promessa de emprego, além de participar na distribuição de cestas básicas e botijões de gás.
• José Petrônio Bezerra relatou ter recebido uma moto Honda Pop 100 da vereadora Vânia de Zu para votar nela e em Lucinha. Quando parte do acordo não foi cumprida, a moto teria sido “furtada” com ajuda de um policial ligado ao grupo político.
• Josinaldo Martins Belém contou que foi coagido a votar na chapa governista com promessa de casa e gás de cozinha, e que sua esposa foi agredida por cabos eleitorais da prefeita.
• Maria José (Lita), ex-candidata a vereadora, confirmou a entrega da moto e disse ter perdido votos porque seus apoiadores receberam gás de cozinha de aliados da gestão.
Clima de medo
Testemunhas também falaram de pressão política, ameaças e perseguições:
• Famílias expulsas de assentamentos por não apoiarem o grupo no poder;
• Tentativas de suborno para evitar depoimentos;
• Um policial militar atuando junto a cabos eleitorais para intimidar eleitores.
O que pede a ação
As alegações finais da defesa do candidato Paulo Castro pedem:
1. Cassação dos mandatos da prefeita, do vice e das duas vereadoras;
2. Declaração de inelegibilidade de todos os envolvidos por oito anos;
3. Aplicação de sanções ao ex-prefeito Antônio Gomes;
4. Condenação ao pagamento das custas e penalidades previstas em lei.
Fase final
A juíza eleitoral Andrea Costa Dantas Botto Targino, titular da 4ª Zona Eleitoral de Sapé, já ouviu todas as testemunhas e recebeu as alegações finais. A sentença deve ser proferida nos próximos dias.
Se confirmadas as acusações, Mari poderá voltar às urnas para escolher novos representantes, e o caso poderá entrar para a história como o maior escândalo de corrupção eleitoral já registrado no município.



